A DINÂMICA DO MERCADO DE TRABALHO DE JOÃO PESSOA NO CONTEXTO RECENTE
- Sondagem Paraíba
- 10 de jun. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 25 de jun. de 2024
Wallace Paulo da S. Araujo
Kauã Victor P. de Oliveira
Heitor Costa F. de Araujo
junho/2024
Entre os censos demográficos de 2010 e 2022, o município de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, viu sua população aumentar em mais de 110 mil habitantes, um crescimento significativo que naturalmente suscita questões sobre a demanda e oferta por empregos na cidade. Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) de João Pessoa, no ano de 2020, gravitava em torno de R$ 20,7 bilhões e correspondia a 29,5% do PIB paraibano.
O município de João Pessoa ocupa uma posição de liderança no ranking do PIB estadual e se destaca como um importante centro político e administrativo do estado. Fundada em 5 de agosto de 1585 com o nome de Capitania Real de Nossa Senhora das Neves, João Pessoa é considerada a terceira cidade mais antiga do Brasil e, nas últimas décadas, experimentou grandes mudanças em sua base produtiva e no mercado de trabalho local. Este artigo busca discutir como evoluiu a dinâmica do mercado de trabalho nos últimos anos, utilizando dados de plataformas oficiais RAIS, Novo CAGED e PNADC.
João Pessoa: distribuição percentual do VAB municipal
entre os anos 2010 a 2020

Fonte: IBGE – Pesquisa Produto Interno Bruto dos Municípios
Segundo IBGE, o Valor Agregado Bruto (VAB), representa o valor que cada atividade econômica acrescenta ao valor final de tudo que foi produzido em uma região ou munícipio. A distribuição do VAB entre os setores econômicos no município de João Pessoa, durante os anos de 2010 a 2020, apresentou alguns aspectos que merecem ser discutidos, uma vez que a dimensão e a capacidade produtiva das atividades de serviços, agropecuária e da indústria interferem na dinâmica e no perfil do mercado de trabalho local.
O setor de serviços representava, na economia pessoense, 56,7% do VAB municipal em 2010 e conseguiu ampliar sua participação ao longo dos anos. Em 2020, o referido setor detinha 58,7% da representatividade do VAB da capital da Paraíba. O crescimento do setor de serviços é reflexo de uma tendência no cenário mundial. Vários novos segmentos de serviços foram criados, principalmente os associados aos serviços oferecidos pelas plataformas digitais e de software. Por outro lado, a variedade de negócios que o setor engloba com baixa necessidade inicial de investimento (alguns atividades comerciais, serviços pessoais, entre outros), contribui para a elevada participação na economia e, por sua vez, na dinâmica do mercado de trabalho.
Em oposto ao percurso observado pelo setor de serviços, a indústria decaiu no VAB de João Pessoa, entre os anos de 2010 e 2020, sendo o segundo maior setor durante o ano de 2010, com uma participação percentual de 22% do VAB pessoense. A indústria local apresentou um declínio na quantidade de empresas do segmento de transformação, o que resultou na queda da participação relativa do setor durantes os anos considerados. Em 2020, apenas 18,6% do Valor Adicionado Bruto da capital da Paraíba era representada pela indústria.
Por sua vez, o setor público exibiu um crescimento significativo na participação do VAB municipal. Em 2010, representava 21,2%, e chegou a 22,4% em 2020. Essa relevância na economia local aconteceu devido João Pessoa ser a capital estadual e sediar diversas secretarias das esferas municipal e estadual assim como órgãos e instituições de comando, superintendências, instituições de ensino superior e unidades de ministérios federais.
A agropecuária tem uma contribuição relativa muito baixa no VAB da capital pessoense. O setor representou apenas 0,2% do total do indicador durante o ano de 2020. Esse fenômeno está associado ao fato do município de João Pessoa ter uma área urbana que representa quase todo seu território, onde a área rural se limita a apenas a pequenos sítios e chácaras próximos aos limites do município.
A estruturação da base produtiva de João Pessoa, do ponto de vista do perfil de suas atividades econômicas, se reflete sobre o mercado de trabalho municipal. Como é possível ver na tabela abaixo, houve um crescimento de 70 mil postos de trabalho na quantidade de pessoas ocupadas na Paraíba ao longo dos quatro trimestres de 2023.
Paraíba e João Pessoa: pessoas de 14 anos ou mais de idade ocupadas entre
o I e IV Trimestres de 2023 (Mil pessoas)

Fonte: PNADC
Por um lado, a expansão média anual do PIB brasileiro em torno de 2,9%, pode ter influenciado a trajetória ascendente do nível de ocupação estadual. De outro lado, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, a receita nominal do setor na Paraíba apresentou, em 2023, uma variação média de 16,47% em relação ao ano anterior. Este é o setor que mais oferece vínculos empregatícios formais no estado. Quando a receita se eleva, há uma tendência de ampliação das admissões.
Por sua vez, observa-se que houve uma queda na quantidade de pessoas ocupadas no município de João Pessoa no mesmo período. Esse fato pode ser atribuído ao saldo negativo de emprego formal observado em 2023 na indústria pessoense. Embora João Pessoa tenha relevância para o estado, o cambaleio no nível de ocupação em 2023 pode ser um sinal de dificuldade da economia local sustentar o crescimento populacional que a cidade viu nos últimos anos e estagnação no mercado de trabalho.
Participação percentual dos setores econômicos
no estoque de empregos de João Pessoa em 2023

Fonte: NovoCaged
A partir dos dados extraídos do Novo Caged, é possível constatar que João Pessoa, no ano de 2023, apresentava uma distribuição de empregos formais por atividade econômica concentrada principalmente no setor de Serviços, uma vez que o referido setor contribui com 54,7% do estoque de emprego formal da economia pessoense. Esse fenômeno não ocorre apenas em escala local, mas também se observa em todo o país, e em especial no estado da Paraíba. O setor de Serviços é formado por uma grande diversidade de atividades, incluindo segmentos de alimentação, alojamento, saúde, educação, transportes, serviço administrativos, comércio e até os serviços como software/computação e as plataformas digitais que agregam um contingente expressivo de pessoas ocupadas. Em 2023, o setor liderou a geração de empregos em João Pessoa, com um saldo impressionante de 7677 empregos, impulsionado pela diversificação dos serviços oferecidos.
De outra parte, a agropecuária representava uma pequena parcela do estoque de empregos, cerca de 0,4%. Como a área geográfica do município de João Pessoa é urbana em quase toda sua extensão, agrícola e a pecuária tem pouca relevância na capacidade de geração de emprego. Ainda assim, houve um saldo positivo de 42 empregos gerados no setor em 2023.
A indústria possuía uma contribuição relativamente baixa em relação a seu histórico nos últimos 20 anos, com aproximadamente 8,3% do estoque de empregos e registrou um saldo negativo de 485 demissões em 2023. A gradual desindustrialização nas últimas décadas em João Pessoa é um reflexo do cenário nacional, visto que em geral a participação das indústrias na economia do país também decresceu.
Vale apontar que, no caso de João Pessoa, a desindustrialização se mostra mais claramente na indústria de transformação, enquanto a indústria de construção civil mantém uma posição mais significativa. A indústria da construção civil detinha uma participação de aproximadamente 13,2% no estoque de empregos. Uma força motriz importante do crescimento econômico de João Pessoa, o setor da construção civil experimentou um grande impulsionamento nos últimos anos, apoiado principalmente pelo crescimento populacional da cidade. É possível observar este crescimento pela criação de 1.838 postos de trabalho em 2023.
Responsável por projetos de infraestrutura, desenvolvimento urbano e habitação, a construção civil gera empregos e estimula o investimento na cidade, no entanto, é importante ressaltar que uma base de empregos baseada na construção civil é insustentável a longo prazo, pois ao final das obras, grande parte da mão de obra empregada é demitida, além de ser um setor muito sensível ao crédito/taxa de juros.

Fonte: NovoCaged
O comércio, em 2023, representava cerca de 23% do estoque total de empregos formais. O setor é responsável pela venda de bens e serviços no ramo varejista. O Setor do comércio seguiu o empuxo do crescimento populacional e exibiu um saldo positivo de empregos formais de1.356 postos de emprego. A agropecuária, apesar de ter uma baixa representatividade no estoque de emprego, apresentou um saldo positivo de 42 empregos. O setor industrial deteve um saldo negativo de 485 postos de trabalho em 2023. O setor da construção civil conseguiu criar 1.838 novos empregos no mencionado ano. A expansão nos investimentos em obras de infraestrutura, construção de edifícios e outros serviços especializados para construção contribuíram para as novas oportunidades de emprego no aludido setor.
É vital comentar a importância da dinâmica da remuneração por setor, uma vez que essa pode informar muito sobre a relação da oferta e demanda por trabalho e do tipo de emprego dentro de um setor. Os dados cadastrados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) registram a remuneração média por setor de atividade econômica no município de João Pessoa em 2022.
O setor com a maior remuneração média em 2022 foi o setor de serviços, com R$3.945,39, o que pode ser explicado pela forte presença do trabalho estatutário no referido setor em João Pessoa, com 100.647 funcionários regidos pelos estatutos dos níveis municipal, estadual e federal de governo em 2022. Como capital do estado, João Pessoa possuí uma máquina pública considerável e um número de autarquias operando no município. Além disso, há uma força considerável de empregados no setor de serviço com ensino superior completo, sendo a média de remuneração dessa demografia R$6093,89, a maior do setor.
O segundo setor com maior remuneração é o setor da indústria, com R$3.085,88. Embora seja relativamente pouco significativo no valor agregado do município, a indústria tende a produzir bens de maior valor agregado. Embora seja o setor menos significante no mercado de João Pessoa, o setor de agropecuária tem a terceira maior remuneração média, com R$2135,09; a maior parte dos trabalhadores empregados na agropecuária, 266, tem o ensino fundamental incompleto e uma remuneração relativamente baixa de R$1641,52, porém há trabalhadores com ensino superior completo com a remuneração média de R$5896,88.
O setor de comércio tem uma remuneração média de R$2.027,25 entre os 44.413 empregados, sendo 34.206 desses trabalhadores com ensino médio completo e uma remuneração abaixo da média de R$1.860,00; trabalhadores com ensino superior incompleto e completo tendem a ter uma remuneração acima da média, R$2.574,85 e R$3.775,84 respectivamente. O setor da construção, embora possuísse o terceiro maior estoque de emprego em 2022 (26.636) também tinha a menor remuneração média, R$1894,50; a maior parte dos empregados do setor de construção (13.252), seguindo a tendência do mercado do município, tinham o ensino médio completo e uma remuneração abaixo da média de R$1.781,56, enquanto a maior remuneração média do setor foi entre trabalhadores com ensino superior completo, de R$3.659,76.

Fonte: RAIS
A partir dos dados fornecidos, é possível observar o comportamento do mercado de trabalho em 2023, bem como a participação dos setores de serviços e construção civil no município de João Pessoa. Essas características do mercado de trabalho podem ser atribuídas a posição da cidade como a capital da Paraíba e seu status como polo econômico e comercial do estado, o que contribui para que João Pessoa tenha um mercado de trabalho voltado principalmente para os setores de serviços e construção. Além disso, é importante destacar que João Pessoa experimentou um crescimento populacional, o que impulsionou a demanda por imóveis na cidade, aumentando assim a demanda por trabalho nos setores mencionados acima.
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