ESTRUTURA E DINÂMICA DO ESTOQUE DE EMPREGOS FORMAIS NA PARAÍBA: Uma Análise Comparativa com o Nordeste e o Brasil
- Sondagem Paraíba

- 11 de set.
- 6 min de leitura
setembro/2025
Evandro José Barbosa Filho
Heloisa G. Cristiano da Silva
O estoque de empregos formais é um indicador fundamental da capacidade de absorção de mão de obra, pois reflete a estrutura consolidada do mercado de trabalho e permite compreender transformações socioeconômicas de longo prazo. Na Paraíba, a análise recente é relevante para avaliar os efeitos da pandemia, os limites estruturais da economia estadual e as convergências ou especificidades em relação ao Nordeste e ao Brasil.
O estudo tem como base os dados do Novo CAGED referentes ao período de 2020 a 2024, permitindo analisar a evolução do estoque de empregos formais na Paraíba em um contexto marcado por fortes inflexões econômicas. Esse recorte temporal abrange, de um lado, a crise sanitária decorrente da pandemia de COVID-19, que impactou severamente o mercado de trabalho em todo o país e também no estado, com expressiva perda de postos formais; e, de outro, a fase subsequente de recuperação, na qual se observa a retomada gradual da atividade econômica e da geração de empregos. Além da dimensão temporal, a análise incorpora uma perspectiva comparativa, cotejando os resultados da Paraíba com as médias do Nordeste e do Brasil.
Dessa forma, busca-se compreender não apenas a capacidade do mercado de trabalho paraibano de resistir e se recompor após a crise, mas também as suas fragilidades estruturais diante de contextos regionais e nacionais mais amplos, especialmente no que diz respeito à diversificação setorial e à consolidação de vínculos formais.
A trajetória recente do estoque de empregos formais na Paraíba revela um padrão marcado pela resiliência inicial frente à crise pandêmica, seguido de expansão acentuada em 2021 e subsequente desaceleração nos anos de 2022 e 2023. Em 2020, ao contrário do observado no Brasil e na maioria dos estados da região, a Paraíba apresentou saldo positivo de empregos formais. Esse comportamento diferenciado decorreu, em grande parte, da manutenção das atividades na construção civil, setor classificado como essencial pelo Decreto Federal nº 10.282/2020.
Evolução do estoque de emprego formal na Paraíba entre 2020 e 2024

Fonte: Novo Caged (Elaboração própria)
No ano de 2021, com o avanço da vacinação e a reabertura progressiva da economia, verificou-se um crescimento expressivo no estoque de empregos formais, de 8,83% em relação a 2020. Esse movimento foi impulsionado principalmente pelos setores de serviços, comércio e indústria, que responderam à demanda reprimida durante os períodos de restrição. Em 2022, entretanto, observou-se uma redução no saldo de empregos, reflexo da normalização do ciclo econômico pós-pandemia e do resfriamento na geração de postos de trabalho nos setores que haviam liderado a recuperação anterior.
O ano de 2023 manteve saldo positivo e, em 2024, os dados indicam um processo de recuperação sustentado sobretudo pelos setores de serviços, comércio e construção. Já a agropecuária apresentou retração em função de sua estrutura sazonal, de alto grau de informalidade e do predomínio da agricultura familiar. Em síntese, a Paraíba apresentou, no período analisado, um desempenho relativamente estável em comparação às médias regionais e nacionais, embora ainda existam fragilidades estruturais que limitam a consolidação de um mercado de trabalho formal robusto e diversificado.
Entre os setores de serviços, comércio, indústria, construção civil e agropecuária, os serviços mantêm-se como o principal empregador formal do estado. Em 2024, esse setor liderou o estoque de empregos formais com mais de 230 mil vínculos, seguido pelo comércio e pela indústria. Nos últimos trinta anos, o setor de serviços tem sido o de maior peso na economia paraibana, tanto em participação do PIB quanto no mercado de trabalho.
A agropecuária seguiu sendo o setor com menor número de vínculos formais, o que é coerente com sua forte dependência de mão de obra informal e sazonal. Por outro lado, segmentos industriais estratégicos — como alimentos e bebidas, têxtil, calçados e materiais de construção — apresentaram sinais de recuperação após os impactos mais severos da pandemia. Entre 2020 e 2022, todos os setores registraram crescimento, sinalizando a retomada do emprego formal após a crise sanitária. Já entre 2023 e 2024, verificou-se expansão significativa no estoque total de vínculos, evidenciando maior capacidade de absorção de mão de obra formal.
Esse movimento sugere uma conjuntura econômica mais favorável, apoiada em investimentos privados e/ou efeitos positivos de políticas públicas no período. O setor de serviços continua se destacando como o principal empregador formal, com crescimento associado à retomada das atividades presenciais, à ampliação de serviços educacionais e de saúde, além do dinamismo em áreas como turismo, logística, tecnologia da informação e serviços administrativos.
A distribuição setorial do emprego formal pode ser visualizada no gráfico a seguir, que compara a participação percentual da Paraíba em relação ao Nordeste e ao Brasil em 2024. É possível observar que os Serviços concentraram 44,5% dos vínculos formais na Paraíba, proporção inferior à do Nordeste (49,4%) e do Brasil (48,6%) no mesmo ano.
Por outro lado, o Comércio apresentou maior peso relativo no estado do que nos contextos regional e nacional, reflexo de uma estrutura econômica fortemente ancorada no setor terciário e da capilaridade do pequeno comércio, sobretudo em cidades médias e pequenas, onde supermercados, farmácias e lojas de utilidades domésticas desempenham papel central no consumo local.
A Construção civil exibiu um peso 60% maior que a média nacional (9,6% contra 6,0%) e superior ao Nordeste (6,9%). Esse destaque está diretamente associado a uma combinação de fatores. No setor público, a atual gestão estadual intensificou investimentos em infraestrutura, habitação popular e obras rodoviárias, o que tem impulsionado contratações formais. Do ponto de vista privado, observa-se um boom habitacional concentrado sobretudo na Região Metropolitana de João Pessoa, marcado pela verticalização acelerada e pela expansão de projetos imobiliários voltados tanto para a classe média quanto para empreendimentos turísticos e de veraneio. Além disso, o avanço dos projetos de energia renovável, em especial parques de geração solar e eólica no interior, tem contribuído para ampliar a demanda por mão de obra no setor.
A Indústria também apresentou uma participação superior à média nordestina (17,3% contra 15,8%), ainda que inferior ao Brasil (18,9%). Esse desempenho está relacionado à presença de polos industriais relevantes, como o cluster de calçados em Campina Grande e cidades vizinhas, a produção têxtil e de confecções em áreas do agreste, além do polo cimenteiro no litoral e interior. Outro vetor de dinamismo vem da agroindústria, especialmente no processamento de alimentos, laticínios e bebidas, segmentos que mantêm forte ligação com a base produtiva local. Essa configuração confere ao setor industrial da Paraíba um peso relativo acima da média regional, mesmo sem alcançar a diversidade industrial observada no plano nacional.
Por fim, a Agropecuária representou 3,2% do emprego formal, abaixo do Nordeste (4,2%) e do Brasil (3,9%). Esse resultado reflete a baixa formalização no campo, marcada pela predominância de pequenas propriedades familiares e pela elevada informalidade na contratação de mão de obra, sobretudo em atividades sazonais ligadas ao cultivo de grãos, fruticultura e pecuária.
Distribuição setorial do emprego formal: Paraíba, Nordeste e Brasil (2024)

Fonte: Novo Caged (Elaboração própria)
Um dos gargalos que ainda limitam a expansão do mercado de trabalho é a persistente informalidade. Os dados do Novo CAGED e da RAIS contemplam apenas o segmento formal, não abrangendo pessoas sem carteira assinada, empregadores sem CNPJ, autônomos e trabalhadores familiares auxiliares.
A composição produtiva de baixa complexidade, centrada em serviços, comércio e agropecuária, coloca a Paraíba em desvantagem frente a estados nordestinos com estrutura industrial mais diversificada. Enquanto a indústria absorve com maior efetividade a mão de obra formal, a realidade local ainda restringe oportunidades nos níveis mais complexos da cadeia produtiva. Essa limitação se soma à baixa qualificação profissional, que reforça barreiras de inserção e reproduz desigualdades históricas.
Do ponto de vista empresarial, os custos associados à formalização pela CLT — como encargos sociais e benefícios trabalhistas — representam um obstáculo adicional, em contraste com o regime estatutário no setor público. Essas barreiras estimulam a flexibilização e, em alguns casos, a precarização do trabalho, enfraquecendo a proteção social prevista na Constituição Federal. Ao mesmo tempo, a ausência de vínculo formal pode tornar famílias de baixa renda elegíveis a programas sociais, criando incentivos indiretos à informalidade.
Nesse cenário, o estoque de emprego formal funciona como um termômetro da efetividade das políticas públicas voltadas à mitigação das desigualdades estruturais. Ele permite avaliar em que medida o mercado de trabalho estadual avança no sentido de oferecer estabilidade, mobilidade social e melhores condições de vida.
Apesar dos desafios, a Paraíba vem demonstrando avanços graduais na consolidação de seu mercado formal de trabalho. O setor de serviços segue a tendência nacional, mas com especificidades que refletem a estrutura econômica estadual. O dinamismo recente, associado à expansão do turismo e a investimentos em construção e comércio, aponta para um processo de recuperação que, embora relevante, ainda convive com limitações históricas de informalidade, baixa complexidade produtiva e vulnerabilidade social.
Assim, compreender a dinâmica do estoque de empregos formais não apenas ilumina a evolução do mercado de trabalho, mas também evidencia o alcance e as limitações das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico e à inclusão social.







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