top of page
Blog: Blog2

OS CONTRASTES DA PARAÍBA: como se distribuem as atividades econômicas no estado?

  • Foto do escritor: Sondagem Paraíba
    Sondagem Paraíba
  • 25 de set.
  • 4 min de leitura

setembro/2025

Wanderleya dos Santos Farias

Letícia do Nascimento Costa


ree

Quando pensamos na economia da Paraíba, é fácil imaginar que todos os setores crescem de forma semelhante em cada canto do estado. Mas será que essa é a realidade? Por que algumas regiões concentram atividades modernas e tecnológicas, enquanto outras ainda enfrentam limitações históricas, climáticas e de infraestrutura? E, afinal, como essas desigualdades regionais afetam o desempenho econômico da Paraíba como um todo? Essas são perguntas centrais para entender a dinâmica econômica estadual.

O que os números revelam é que não existe uniformidade: a produção de riquezas se concentra em áreas específicas, enquanto outras permanecem com baixa capacidade de gerar valor. A seguir, olhamos para cada setor, destacando suas características, desafios e potenciais.

A agricultura familiar de pequeno porte ocupa lugar de destaque no interior do estado, o que evidencia a fragilidade do setor agropecuário, cujo peso no PIB estadual caiu ao longo das últimas décadas. Atualmente, o setor responde por pouco mais de R$ 3 bilhões em valor agregado, com forte liderança do Agreste, que concentra cerca de 34% do VAB agropecuário da Paraíba. Dentro dele, o Brejo paraibano tem papel estratégico: municípios como Alagoa Grande, Areia, Bananeiras e Pilões se destacam na produção de lavouras permanentes (banana, abacaxi, café) e no cultivo de raízes (mandioca, inhame), combinando tradição agrícola com crescente diversificação.

Fontes: PAM/IBGE e PPM/IBGE
Fontes: PAM/IBGE e PPM/IBGE

Na sequência aparece a Zona da Mata, responsável por 28% do VAB do setor, fortemente ancorada no complexo sucroalcooleiro, liderado por empresas como Japungu, Giasa e Monte Alegre, que segue como motor dinâmico e empregador importante. A cana-de-açúcar é um dos poucos cultivos com forte mecanização e irrigação, o que garante alto retorno para as empresas do setor e elevados níveis de produtividade e  faturamento.

Já a Borborema (23%) é marcada por estiagens recorrentes e baixo nível tecnológico, predominando a agricultura familiar de subsistência. No Sertão (16%), a marca regional é a caprinocultura, embora o rebanho bovino, outrora significativo, tenha se reduzido bastante. Existem algumas unidades de processamento, mas com pouca capacidade de irradiar dinamismo econômico para o VAB setorial e os PIB locais. O quadro agropecuário revela, assim, uma geografia marcada por ilhas de modernização em meio a extensas áreas de vulnerabilidade.


Paraíba: distribuição % do VAB agropecuário entre as mesorregiões em 2021

  Fonte: SIDRA/IBGE
Fonte: SIDRA/IBGE

O setor industrial da Paraíba gera cerca de R$ 10 bilhões em valor agregado, mas a maior parte dessa riqueza está fortemente concentrada em João Pessoa/Cabedelo e em Campina Grande, que juntas respondem por mais de 70% do VAB industrial estadual. Essa concentração espacial reflete tanto as vantagens logísticas dessas regiões (porto, entroncamentos rodoviários) quanto os limites de atração de investimentos para o interior. A base produtiva atual é fortemente marcada por bens de consumo não duráveis.

Destacam-se empresas de alimentos (São Braz, Moinho Dias Branco, Isis), têxteis e vestuário (Campina Grande, Santa Rita), calçados (Alpargatas) e bebidas (Ambev, Indaiá, cervejarias artesanais), segmentos que apresentam baixa diversificação tecnológica, o que limita ganhos de produtividade e de competitividade.

 Em paralelo, o setor cimenteiro, com fábricas da Votorantim, InterCement Brasil, Elizabeth e Brennand, localizadas no Litoral Sul, opera com maior intensidade tecnológica e responde por uma parcela significativa do valor adicionado estadual. Contudo, esse dinamismo vem acompanhado de impactos ambientais expressivos, que recolocam em pauta os dilemas entre crescimento econômico e sustentabilidade.

No interior, a presença industrial é tímida, restrita a algumas âncoras em ramos específicos como a Guaraves em Guarabira ou laticínios em Sousa. Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta gargalos de infraestrutura (energia, logística, água) que reduzem seu potencial de expansão.


Paraíba: distribuição % do VAB industrial entre as mesorregiões em 2021

Fonte: SIDRA/IBGE
Fonte: SIDRA/IBGE

Com valor agregado superior a R$ 32 bilhões, os Serviços são, hoje, o coração da economia paraibana. Representam mais de 70% do PIB estadual e, sobretudo, o maior número de empregos formais. Mas, assim como nos outros setores, o dinamismo não se distribui igualmente. Na Zona da Mata, especialmente em João Pessoa, concentram-se serviços de saúde de alta complexidade, educação superior, turismo, comércio sofisticado e um polo crescente de tecnologia da informação. O Agreste, puxado por Campina Grande, se destaca como hub logístico e educacional, irradiando influência para Sertão e Borborema.No Sertão, cidades como Patos, Sousa e Cajazeiras vêm se consolidando como polos regionais de saúde e ensino superior, ainda que com produtividade média inferior. Já a Borborema aposta em turismo cultural e serviços públicos, com ganhos mais localizados.


Paraíba: distribuição % do VAB industrial entre as mesorregiões em 2021

Fonte: SIDRA/IBGE
Fonte: SIDRA/IBGE

Esse mosaico mostra que os serviços sustentam a resiliência econômica do estado, mas ainda reproduzem desigualdades regionais em termos de sofisticação e produtividade.

A administração pública, que inclui defesa, educação e saúde, ainda responde por mais de R$ 21 bilhões em valor agregado. Seu papel é decisivo para cidades médias e pequenas, onde o setor privado não consegue gerar empregos em escala suficiente. No entanto, sua participação relativa vem diminuindo. Isso se deve tanto ao crescimento dos serviços privados quanto à redução de transferências federais e estaduais. Ainda assim, permanece como pilar de estabilidade em várias regiões do interior.

A economia paraibana é marcada por fortes assimetrias regionais. Enquanto a Zona da Mata se beneficia de polos dinâmicos na agroindústria, serviços e indústria, áreas como Borborema e Sertão seguem enfrentando limitações estruturais. Essa desigualdade coloca em questão o futuro do desenvolvimento estadual: como ampliar a difusão dos efeitos positivos e reduzir os vazios produtivos? A resposta passa por políticas públicas de interiorização, ampliação da infraestrutura hídrica e logística, maior acesso a crédito e estímulo a cadeias produtivas regionais. Só assim a Paraíba poderá transformar seu mosaico econômico em uma rede mais integrada e capaz de elevar o bem-estar em todas as suas mesorregiões.




 
 
 

Comentários


bottom of page