A cidade João Pessoa no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus

27/06/2020

Vitoria da Silva Galdino Oliveira

Carlos Henrique Alves Oliveira Macaibade Sousa

Newerton dos Santos Cruz

Wanderleya dos Santos Farias

Pandemia é uma palavra que se refere a um cenário em que uma doença cresce em grande escala e que se espalha rapidamente por diversos países. No momento atual,passamos por uma grave pandemia do Covid-19, também conhecido como novo coronavírus. O Covid-19 é uma doença respiratória aguda causada pelo vírus (SARS-CoV-2) e possui uma taxa de contágio exponencial. O vírus surgiu em Wuhan(China) em dezembro de 2019 e, rapidamente, se disseminou em outros continentes.

A pandemia chegou ao Brasil em 26 de fevereiro de 2020, com o primeiro caso confirmado em São Paulo e se espalhou por outros estados. Em menos de um mês, cada estado tinha no mínimo 1 caso confirmado da doença. Na Paraíba, o primeiro caso confirmado foi em João Pessoa e na atualidade, a cidade se encontra com 9.247 casos e 330 óbitos, tendo uma letalidade equivalente a 2,5%.

João Pessoa é a capital do estado da Paraíba e, segundo o IBGE, tinha uma população estimada, em 2019, de 809.015 habitantes. Com duas grandes reservas de Mata Atlântica, a cidade é bastante arborizada e se constitui num dos centros urbanos mais verdes do planeta. João Pessoa é o principal centro econômico e financeiro da economia estadual, com dois distritos industriais e um setor de serviços bastante diversificado. Do ponto de vista ambiental, segundo o IBGE Cidades, 70,8% dos domicílios urbanos tinha acesso ao sistema de esgoto sanitário no referido município.

Após o primeiro caso confirmado em João Pessoa, o prefeito Luciano Cartaxo tomou medidas preventivas como o fechamento de shoppings e a redução no horário de funcionamento do comércio. Em seguida, anunciou a suspensão das atividades do transporte coletivo e de demais estabelecimentos como restaurantes, salões, casas noturnas, academias, entre outros. A prefeitura estabeleceu um decreto com um isolamento mais rígido de pessoas e veículos entre os dias 1 a 14 de junho. Desde o primeiro caso confirmado, houve um crescimento vertiginoso da pandemia na cidade. Até o dia 25 de junho, segundo o Boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de João Pessoa, já havia 9. 247 casos confirmados de pessoas com o Covid-19.

Fonte: Boletim epidemiológico da Prefeitura de João Pessoa

Por ser a capital do estado, João Pessoa apresenta uma infraestrutura médica e hospitalar mais ampla em comparação aos demais municípios. Há um grande número de estabelecimentos públicos e privados de saúde, clínicas de diversas especialidades, hospitais de alta complexidade tecnológica, farmácias, entre outros, fato que não condiz com a realidade de algumas cidades do interior da Paraíba. Diversos municípios do interior não chegam a ter 10.000 habitantes e as condições demográficas e econômicas são mais débeis. Quase sempre a estrutura hospitalar dos pequenos municípios é muito incipiente, o que causa pressão sobre a rede de saúde pública de João Pessoa, pois muitas pessoas acometidas com a doença são encaminhadas para hospitais na capital do estado.

Como todo grande centro urbano, João Pessoa também apresenta problemas de infraestrutura, de mobilidade urbana e de desigualdade social. A capital da Paraíba experimentou um grande surto de crescimento urbano desde os anos 1960 e esse crescimento ocorreu de forma desordenada no que se refere à dinâmica da ocupação e do uso do solo nas bordas da cidade. Alguns bairros surgiram com padrão urbanístico satisfatório, dotados de infraestrutura de equipamentos urbanos, domicílios com acesso ao sistema de esgoto e drenagem, pavimentação de ruas, praças e coleta de resíduos sólidos, enquanto outros bairros foram surgindo com padrão bastante diverso, sem disponibilidade de infraestrutura e serviços, principalmente nas áreas fronteiras da cidade.

O perfil da população residente nas bordas urbanas de João Pessoa apresenta características socioeconômicas bastante distintas da população residente nos bairros de classe média e classe alta. A partir da década de 1980, a malha urbana se estendeu ainda mais ao sul da cidade, num processo de expansão dispersa que intensificou o quadro de segregação socioespacial. Segundo os dados epidemiológicos divulgados pela Secretaria de Saúde do governo do estado da Paraíba, a pandemia vem atingindo um maior número de pessoas nos bairros mais populosos e onde predomina condições sociais e econômicas mais frágeis como Mangueira, Valentina, Oitizeiro, Gramame.

No gráfico, é possível constatar que os bairros mais atingidos pela Covid-19 são aqueles que, na maioria dos casos, estão localizados nas bordas urbanas de João pessoa e que apresentam alta densidade populacional, maiores níveis de tráfego e comércio. Ainda que a população tenha consciência da gravidade da pandemia e da necessidade de isolamento social, em diversas situações, as pessoas que residem nesses bairros são obrigados a saírem de seus domicílios para ir em busca de alguma ocupação em atividades informais.

A expansão acelerada de novo casos implica em uma grande pressão para o município, pois apesar de dispor de várias unidades do SUS, a cidade não está preparada para receber a grande quantidade de pessoas acometidas com a Covid-19 que precisam de atendimento de urgência e de internação. A pandemia atinge mais intensamente a população dos bairros localizados nas bordas da cidade de João Pessoa e evidencia o quanto a segregação espacial e as disparidades urbanas trazem prejuízos para as classes sociais menos favorecidas. Isto nos leva a pensar em políticas públicas, como por exemplo,a adoção de políticas governamentais que atenuem a desigualdade socioeconômica e que planejem a expansão da cidade a partir da noção de desenvolvimento sustentável.

Projeto de Extensão - Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental de Municípios Paraibanos - Curso de Economia/UFPB

Núcleo de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável - NPDS

LATWORK: Projeto internacional para desenvolver as capacidades de pesquisa e inovação das instituições de ensino superior da América Latina para análise do mercado informal de trabalho.