O caminho da propagação da Covid-19 pelos municípios paraibanos
- Sondagem Paraíba
- 2 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de jun. de 2020
02/06/2020
José Vinícius Souza Alves
Rejane Gomes Carvalho
O estado da Paraíba, até o momento, se aproxima de 15.000 casos confirmados de Covid-19, com quase 400 mortes, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Esse número mostra uma situação preocupante, pois levamos apenas dois meses para chegarmos a esse ponto. Não somente o número é assustador, mas o alcance e a velocidade de propagação do vírus também é algo que chama bastante a nossa atenção. Nesse curto período de tempo o coronavírus se espalhou por todo o Estado, tendo casos confirmados em mais de 80% dos municípios.
Há uma peculiaridade na maneira pela qual o vírus se propagou. Segundo uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Estudos e Gestão de Águas e Território, ligado ao Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o coronavírus se difundiu pelo interior através da malha rodoviária, principalmente pela BR-230. Ou seja, o vírus se espalhou pelo estado devido ao fluxo intenso de pessoas entre as cidades, principalmente dos maiores centros urbanos, como João Pessoa, Campina Grande e Patos, para as cidades de pequeno porte. Diariamente ocorre uma grande circulação de pessoas, mercadorias e serviços, movimento que representa o dinamismo econômico entre o litoral e o sertão do estado por meio da principal rodovia.
Para expressar este movimento, utiliza-se o conceito de região geográfica imediata, definido pelo IBGE. A Paraíba possui 15 regiões geográficas imediatas, distribuídas em 4 regiões geográficas intermediárias (João Pessoa, Campina Grande, Patos e Sousa-Cajazeiras). Esta noção serve para explicar melhor a circulação de pessoas e mercadorias na rede urbana, tendo um município polo como referência.
Na região geográfica imediata de João Pessoa, foi onde se registrou o maior número de casos de contaminação por coronavírus, com destaque para João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Santa Rita e Conde. Essa região representou mais de 55% dos casos notificados no estado até o final de maio. Neste último mês, observou-se o avanço da disseminação do vírus pelas cidades do interior. Na região geográfica imediata de Campina Grande, o número de pessoas contaminadas ultrapassou 17% dos casos confirmados. No tocante à região geográfica imediata de Patos, o número de casos representa mais de 5%. Das 15 regiões geográficas, João Pessoa, Campina Grande e Patos já somam quase 80% dos casos de todo o estado.

Avaliar esse comportamento é importante para que os gestores públicos fortaleçam medidas para mitigar a expansão do vírus, especialmente, nos pequenos municípios. Tais localidades não apresentam infraestrutura hospitalar adequada para atender pacientes em estado grave, sendo o tempo de deslocamento um fator que pode incorrer em fatalidades. A maioria das pequenas cidades paraibanas depende de assistência no sistema de saúde das cidades polo, o que pode provocar rapidamente o colapso no atendimento hospitalar.
No mapa, destacam-se as cidades onde foi registrado pelo menos um caso do novo coronavírus até o final de maio. Podemos identificar um padrão, onde vemos que o vírus se propagou ao longo das principais rodovias do estado. Se deslocando da capital por meio da malha rodoviária, o vírus chegou em algumas cidades polos do interior. O tráfego intenso de pessoas entre estas cidades e os municípios adjacentes, está fazendo com que o vírus consiga chegar nos lugares mais remotos do Estado.

Infelizmente, outros estados estão sofrendo com o mesmo problema. Segundo um estudo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a malha rodoviária do estado de São Paulo também se tornou o principal fator de disseminação do vírus entre as cidades daquele estado. Algo similar também ocorre no estado de Pernambuco onde a BR-232 se tornou o caminho de disseminação do vírus, principalmente entre a capital Recife e os municípios do interior.
Algumas medidas foram tomadas para tentar conter a disseminação do vírus, entre elas se destacam barreiras sanitárias que foram implementadas no início de abril nas divisas paraibanas com os estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Essas ações foram importantes, visto que os estados vizinhos possuem alto índice de disseminação do vírus. Contudo, essas medidas não foram suficientes, uma vez que os casos confirmados e a propagação se deu rapidamente entre as cidades do próprio estado.
Alguns fatores contribuíram para a propagação da Covid-19, como a insuficiência de testes para monitorar o avanço do vírus, a falta de controle de tráfego entre as cidades afetadas e a demora de reação das autoridades competentes. Para piorar essa situação, a grande maioria das pequenas localidades depende totalmente das grandes cidades, verificando-se grande fluxo de pessoas e de veículos entre elas.
Essa situação mostra-se como um grande desafio para enfrentarmos, pois é evidente que, além do isolamento social, é fundamental um controle rigoroso do fluxo de pessoas entre as cidades, mas com a garantia de que não haja desabastecimento de alimentos nas pequenas localidades, principalmente daquelas que dependem de cidades polos, assim como é necessário assegurar acesso aos serviços de saúde para as pessoas.
Projeto de Extensão – Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental de Municípios Paraibanos/UFPB
Núcleo de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável – NPDS/UFPB
LATWORK: Projeto internacional para desenvolver as capacidades de pesquisa e inovação das instituições de ensino superior da América Latina para análise da economia informal e do trabalho informal.
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