O mercado de trabalho em Guarabira/PB e a crise sanitária da Covid 19
- Sondagem Paraíba
- 26 de out. de 2021
- 5 min de leitura
João Pessoa, 25/10/21
Raynnara Laurentino Rodrigues
Maria Esperança Ferreira da Silva
Wanderleya dos Santos Farias

A cidade de Guarabira, popularmente conhecida como "Rainha do Brejo", localiza-se na Mesorregião do Agreste paraibano e na microrregião de Guarabira. De acordo com o IBGE Cidades, a população estimada do município em 2020, era de 59.389 habitantes. Guarabira se destaca por ser o município mais populoso de sua microrregião e por possuir a 10ª maior economia do estado da Paraíba. O município está situado em uma área que polariza 30 cidades, todas tendo um forte vínculo econômico com sua economia local. Segundo o IBGE, 18,1% da população na força de trabalho tinha carteira assinada em 2019 em Guarabira. Por outro lado, esse indicador sugere a existência de um elevado percentual de trabalhadores em atividades informais no município. Segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), o estoque de emprego formal, isto é, a quantidade total de vínculos celetistas ativos foi de 8.223 vínculos no ano de 2021 no referido município.
A pandemia da Covid-19 vem afetando a vida econômica no contexto mundial e nacional. O avanço da vacinação está conseguindo reduzir a quantidade de pessoas infectadas e, por conseguinte, as normas de distanciamento social estão sendo flexibilizadas. Mas o percurso em direção ao ‘novo normal’ se dá de maneira bastante diferenciada entre os municípios paraibanos. Nesse aspecto, como a pandemia impactou o mercado de trabalho em Guarabira e quais as sinalizações de uma possível recuperação econômica local?
Os indicadores apontam que, em 2020, a quantidade de empregos formais apresentou variações negativas nos meses de julho e dezembro. No ano de 2020, ocorreram 1.723 admissões de vínculos formais de trabalho, enquanto foram registrados 2.066 desligamentos, resultando em um saldo negativo de (-343) empregos formais na cidade de Guarabira. O pior resultado se deu no mês de março de 2021, com um saldo negativo de -456 desligamentos. Importante realçar que, nessa fase, as economias mundial e brasileira sentiam os impactos deletérios da crise causada pela Covid-19.

Os indicadores revelam ainda que o saldo do emprego formal, diferença entre a quantidade de admissões e de desligamentos, apresentou variações negativas nos meses de julho (-15) e dezembro (-10) de 2020. Mas, o pior saldo foi no mês de março (-243) de 2021. No referido mês, a cidade de Guarabira chegou à marca de 6.332 casos de Covid-19 e com um total de 92 óbitos. Além disso, vale destacar que Guarabira ocupou, desde o início da pandemia na Paraíba, a quarta posição no número de casos da doença no estado, de acordo com Secretaria Estadual da Saúde. Desse modo, as medidas adotadas pelos governos estadual e municipal para conter a disseminação da doença não impediram que a dinâmica da economia local ficasse ilesa aos impactos da crise, ocasionando assim o fechamento parcial ou total de diversas empresas e demissões de inúmeros trabalhadores.

O mês de maio de 2021 apresentou o maior valor positivo da série histórica que vai de junho de 2020 a julho de 2021, com um saldo de 249 novas ocupações formais no mencionado município. Esse bom desempenho do mercado formal de trabalho evidencia sinais de recuperação frente ao saldo negativo observado no mês de março do mesmo ano. Vale ressaltar que a maior flexibilização das atividades produtivas é fruto da campanha de vacinação contra o vírus da Covid-19, repercutindo no aumento dos empregos formalizados.

De acordo com o Gráfico acima, pode-se perceber que o setor que tem apresentado uma grande quantidade de vínculos empregatícios em Guarabira, em 2021, é o da indústria. No acumulado de janeiro a julho de 2021, a indústria obteve 35% do estoque de emprego formal em Guarabira. Com um Distrito Industrial (administrado pela CINEP - Companhia de Desenvolvimento da Paraíba) em fase de expansão e com espaço e isenção fiscal para instalações de novas empresas, o setor secundário vem crescendo nos últimos anos no município. Destaque-se que Guarabira porta a matriz de uma das maiores indústrias produtoras de alimentos do estado, a Guaraves, responsável pelas marcas como a Bom Todo e Aquavita. Tais fatores tendem a explicar a maior expressividade do setor industrial na quantidade de empregos formais do município.
O comércio foi a segunda atividade econômica que mais empregou formalmente no município entre janeiro a julho de 2021, totalizando 28% da população ocupada com carteira assinada. Desde o início do século XX, o setor de comércio é o que mais se destaca no município por seu dinamismo e representatividade, sendo Guarabira reconhecida como o maior pólo comercial do Brejo.
Em outra perspectiva de análise, no que se refere à composição por gênero do mercado formal de trabalho de Guarabira, observa-se também, que a quantidade de desligamentos de vínculos empregatícios entre os homens superou o contingente de mulheres desligadas de seus postos de trabalho em 2020. Por outro lado, as mulheres são menos admitidas no mercado formal de trabalho. Mesmo com a economia local revelando uma capacidade de reanimação, ainda no referido ano, as admissões não superaram os desligamentos para ambos os gêneros.

A diferença entre a quantidade de admissões e de desligamentos apresentou maior variação negativa (-181) entre as mulheres. Pode-se aludir que a baixa participação de mulheres no mercado formal de trabalho esteja associada à desigualdade de gênero no mercado de trabalho, onde as mulheres, em geral, ocupam postos de trabalho com baixos níveis de renda, mais precarizados e em atividades informais. Dessa forma, as mulheres tendem a ficar mais expostas à alta rotatividade nas ocupações e ao desemprego estrutural.

Ao observar os desligamentos do mercado formal de trabalho de Guarabira por grau de instrução no ano de 2020, nota-se que os trabalhadores que tinham o médio completo foram os mais atingidos (-1182), seguidos por os trabalhadores que só tinham o fundamental incompleto (-289) e médio incompleto (-205). Geralmente, as atividades que possuem como pré-requisito baixos níveis de instrução são informais, com baixa remuneração, possibilidades quase nulas de crescimento de carreira e mais sujeitas ao desemprego em momentos de crise como a causada pela COVID-19.

Ao analisar a quantidade de desligamentos por faixa etária, nota-se que os trabalhadores localizados entre os 30 e 39 anos foram os mais afetados no ano de 2020, com um total de (-664) desligamentos. A faixa etária que apresentou o segundo maior aumento na quantidade de pessoas desligadas foi a de 18 a 24 anos, com (-540) postos de trabalho formais. Vale destacar que na Paraíba, a população jovem, em sua maioria, não possui nível superior de educação formal, o que torna mais difícil a inserção no mercado formal de trabalho.
Projeto de Extensão - Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental de Municípios Paraibanos - Curso de Economia/UFPB
Núcleo de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável – NPDS
LATWORK: Projeto internacional para desenvolver as capacidades de pesquisa e inovação das instituições de ensino superior da América Latina para análise do mercado informal de trabalho.
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